Emprego: como lidar com uma demissão? Psicóloga comenta
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Muita gente vive uma espécie de “luto” quando é desligado de um trabalho
A gente passa até mais de um terço do dia dedicado ao trabalho. A rotina do emprego e as obrigações do ofício acabam nos conectando de forma muito forte com a empresa, os colegas e as tarefas que desempenhamos. Por isso, muitas pessoas se sentem “sem chão” ou com a sensação de que “perderam algo/alguém” quando uma demissão inesperada acontece.
Segundo a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, Dra. Luciene Figueiredo, existem casos em que o demitido pode entrar em um quadro de crise ou perturbação emocional de identidade após perder o emprego. Essa sensação vem acompanhada de um sofrimento psicológico (conflito) em relação ao crescimento pessoal e profissional porque agora “perdeu” o cargo ou a função que ocupava.
Esse conflito nos leva a questionamentos tais como “e agora quem sou eu?”, “o que eu vou fazer?”, “pra onde eu vou todos os dias agora?”, e muitas vezes estes pensamentos disfuncionais podem interferir na autoimagem da pessoa. Uma vez que ela se enxergava naquela posição/função laboral e tem dificuldade para se dissociar desta.
“Culturalmente, o trabalho ocupa posição central na vida em sociedade, e temos até aquele ditado popular de que o trabalho dignifica o homem. Por isso, vemos muitos demitidos viverem fases similares ao luto após uma demissão, comparáveis até ao falecimento de um ente querido”, comenta.
A seguir, a especialista compara as fases do luto com a perda de um emprego.
Negação: “como assim, eu fui demitido?”. No momento do desligamento é comum que a pessoa apresente desconforto emocional, sem saber processar direito aquela informação. O choque que algo inesperado nos provoca traz a negação, pois é mais fácil negar o acontecimento, a princípio, do que processar e ressignificar a dor que aquela situação vai nos trazer.
Raiva: depois de entendido que a demissão aconteceu, pode iniciar uma fase em que a pessoa demitida vai sentir raiva (da empresa, de algum colega, de si mesma), procurando culpados para o acontecimento.
Negociação: essa fase é conhecida também como “barganha”. “Se eu mudar alguns comportamentos e me aprimorar profissionalmente talvez eu possa voltar para a empresa”, ou “com a bagagem que acumulei, posso ter chances em outro lugar”, o indivíduo busca saídas negociadas para reverter seu quadro atual.
Depressão: nessa fase, a tristeza, melancolia e vontade de se isolar aparecem — são condições normais e precisam ser vivenciadas, apesar de grande parte das pessoas acreditarem que esses sentimentos devem ser reprimidos. Está tudo bem “estar triste”; depois da tempestade, sempre vem a bonança. Contudo, esses sentimentos são muito disfuncionais e se persistentes por muito tempo podem até mesmo desencadear um quadro psicopatológico.
Aceitação: expressada, manifestada e elaborada a tristeza, a “ficha cai” e a pessoa aceita que um ciclo se encerrou, e depois de acolher as suas emoções conflitantes, ela está pronta para seguir adiante.
Significado: o que ficou disso tudo? Nesta fase, o indivíduo faz um balanço do que viveu e pode tirar ensinamentos e lições para o futuro. No âmbito profissional, fica a possibilidade de rever posturas e até mesmo a própria carreira, partindo para o trabalho autônomo ou investindo em um negócio; muitas novas saídas e portas podem se abrir.
A psicóloga lembra que é importante vivenciar os momentos, sentimentos e experiências. De toda forma, quem tem dificuldade para lidar com suas emoções deve buscar ajuda profissional.
“As emoções precisam ser vividas, desde a alegria até a raiva e frustração. E é sempre bom lembrar que para todas as situações, sempre há uma saída no final do túnel, e se o indivíduo não conseguir lidar com seus sentimentos, pode e deve procurar e um profissional que possa ajudar”, finaliza Luciene.