Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz refletem sobre racismo histórico e defendem postura antirracista durante Fronteiras do Pensamento

 

A Mestre em Filosofia e pesquisadora Djamila Ribeiro e a historiadora Lilia Schwarcz promoveram uma reflexão sobre o racismo nesta terça-feira (1º), provocando o público do Fronteiras do Pensamento a ter uma postura mais crítica e participativa no combate a esse tipo de preconceito. O debate entre as duas intelectuais brasileiras encerrou a temporada 2019 do projeto em Salvador, que é patrocinado pela Braskem e pelo Governo do Estado, através do Fazcultura. Com o tema Sentidos da vida, o Fronteiras do Pensamento também trouxe para a capital baiana, esse ano, o escritor e jornalista cubano Leonardo Padura e o filósofo francês Pierre Lévy.

 

Em sua fala no Teatro Castro Alves (TCA), Lilia analisou o processo de escravidão no Brasil, demonstrando que há uma tentativa de apagar parte da história, minimizando os prejuízos e consequências desse período. No entanto, a historiadora defendeu que esse legado reflete na realidade social contemporânea, criando um racismo estrutural e institucional em que os afrodescendentes têm direitos constitucionais de educação, saúde e segurança negados.

 

Para Lilia, há um “genocídio invisível ou que poucos querem ver” vitimando os negros. Apesar da realidade, a historiadora avalia que o brasileiro nega que seja racista, mesmo reconhecendo o preconceito nos outros. Diante disso, ela defende a necessidade de ter atitudes antirracistas. “É hora de tocar o despertador da história. Não adianta falar que não é racista. É preciso ser antirracista”.

 

Já Djamila defendeu o envolvimento de todos no combate ao racismo, inclusive de brancos. De acordo com ela, há um entendimento equivocado do conceito de “lugar de fala”, expressão que se popularizou nos últimos anos e que, inclusive, já foi objeto de análise dela no livro “O Que é Lugar de Fala?”. A historiadora explicou que essa expressão deve ser utilizada para mostrar o contexto social, econômico, de gênero e raça de quem expressa uma opinião sobre o assunto, não para impedi-la de se expressar. Portanto, um homem branco poderia falar sobre diversos assuntos, inclusive, o racismo, mas a partir da perspectiva de vivência de gênero e raça dele.

 

Djamila ainda ressaltou que há diferença entre “lugar de fala” e representatividade. “Não é que as pessoas brancas não possam falar sobre racismo, ao contrário, elas devem. Mas é de onde elas falam. O ‘lugar de fala’ é isso, para mostrar de onde cada pessoa fala, e não, sobre o que fala. Não se pode confundir com representatividade”, explica.

 

Com base nisso, a historiadora argumenta que a população branca tenha um olhar crítico para entender as consequências de pertencer a um lugar socialmente privilegiado e contribuir para romper com atitudes racistas. “Todos devem ter uma postura ética de pensar sobre o racismo (e outros preconceitos que atingem um grupo social). Mas não posso me colocar no lugar do outro, o que eu posso é refletir criticamente sobre o lugar do outro. Do meu lugar social posso pensar o lugar do outro”, complementa. *AT

Foto: Carlos Casaes

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