Colunista Moacir Saraiva: “Saíram de casa e o bicho pegou!”

SAÍRAM DE CASA E O BICHO PEGOU!

 

Um casal de idosos, idosos sim, velhos não, a despeito de ambos já terem ultrapassado o limite dos setenta, mas cheios de energia e ainda trabalhando, viajando muito, praticando esportes e capitães de suas vidas. Com quatro filhos e todos morando com suas respectivas famílias. Na pandemia, o casal resolveu ficar só, mesmo os filhos se oferecendo para voltarem para o apartamento dos pais.

Na cidade onde mora o casal, a quarentena está sendo bem rígida e para diluir bem o tempo, eles se ocupam em fazer pratos diferentes, ver filmes, leituras e alguns jogos interessantes. As filhas, os filhos, genros, noras e netos a todo instante se comunicam com os idosos, um zelo justo dos mais novos.

Os casos de covid-19 aumentando e os dois idosos bem seguros, pois nenhum contato com outras pessoas eles mantêm. As compras de mercado, ora um filho faz, ora outro, ou uma das filhas e as compras já chegam devidamente higienizadas, tamanho é o cuidado que eles têm com os pais.

Mesmo com todas as medidas de confinamento deliberadas pelos poderes públicos, infelizmente, alguns teimam em desrespeitar as normas vigentes. O pânico toma conta da cidade, alguns meios de comunicação, com muito prazer, se encarregam de adubar negativamente a mente da população com manchetes e matérias cheias de “dados oficiais” só entrevistando técnicos para adubar mais ainda o pânico, quando entrevistam alguém mais sensato, cortam a entrevista. Isso enche a cabeça dos ouvintes e telespectadores que ainda sintonizam esses meios e o pânico é inevitável, pois os “dados oficiais” alardeiam que a população será dizimada.

Nosso casal, há muito já não vê mais noticiários, acompanha algumas informações na internet e em algumas delas há o contraditório  mostrando–as com mais veracidade. Esses idosos conseguem se blindar dos exageros, sabem que a pandemia é uma realidade, mas não entram em pânico. Moram em um apartamento cujas redondezas são formadas por belos campos, arborizados, muitos pássaros, muitas flores e devidamente seguras. E em virtude da pandemia, não se vê ninguém desfrutando daquele oásis.

Após mais de quarenta dias sem pôr a cara na rua, em uma   quarta–feira, acordaram muito mais cedo do que os outros dias, estavam agoniados e oito da manhã, resolveram fazer uma caminhada no entorno do prédio, não havia ninguém e, portanto, nenhum risco corriam. Fizeram a caminhada sem que nenhum filho tomasse conhecimento. O dia estava quente, apesar de ser o início do dia, saíram bem equipados para evitar o contágio; máscara, luvas, uma proteção nos cabelos e demais roupas normais para um atleta, quais sejam, camisa de proteção solar, short, tênis e meias. A caminhada durou apenas uma hora.

Após cinco dias da primeira caminhada, os idosos adoeceram, apareceram dores de cabeça e nos olhos, além de dores musculares e nas articulações. Isso os assustou e passaram uma manhã inteira sem atender ligações telefônicas, seja no celular, seja no fixo, em virtude da indisposição para se deslocarem até onde os aparelhos se encontravam. Os filhos se preocuparam a partir do meio dia, uma vez que os pais dormiam até tarde. A partir das doze horas, nenhuma comunicação com eles, apesar de muitas ligações feitas para os idosos.

Por volta das 14 horas, um dos filhos se dirigiu ao apartamento a fim de verificar o que estava acontecendo com os pais. Bateu à porta e chamou pelo pai, ele respondeu, mas não a abriu, telefonou para o filho e disse:

– Estamos doentes.

O filho ficou desesperado, pois pensou na doença do momento. O pai continuou.

– Eu e tua mãe demos uma saidinha, e para um não ficar com inveja do outro, o bicho pegou nós dois, mas não foi o coronavírus e sim o Aedes Aegypti.

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