Colunista Moacir Saraiva: “O Entregador”

Lá vai ele, rua abaixo, rua acima, com seus quase setenta anos, usando camisa e calça maiores do que o corpo. Baixo, cabelos poucos e bem finos, sapatos fortes a fim de suportar as longas caminhadas. Corpo magro, talvez pelas andanças, pois sua vida é andar, sua vida é caminhar fazendo entregas.

Diferentemente dos que têm dias e horários para fazer entrega, ele não tem hora, nem dia para exercer sua missão. Durante o dia faz com gosto e, à noite, também se desloca, aos sábados e até aos domingos, ele se prontifica, com alegria, a ir de porta em porta a fim de entregar o material que lhe é passado para ser levado a um destinatário.

Sai na chuva e o sol também não o impede de caminhar pelas ruas, às vezes, ruas enlameadas cheias de armadilhas, ainda, assim, o senhor segue feliz, pois para ele, o mais importante é fazer chegar às mãos dos destinatários as informações, ou os cartazes, ou outro material que o reverendo o entrega.

É uma atividade que para o conjunto da sociedade não tem muita importância, um simples entregador de materiais, mas para ele é a atividade mais sublime, uma atividade sagrada e por isso ele se entrega a ela com tanto amor, com tanta devoção. Essa obstinação é observada por alguns que o conhecem e por outros que não convivem com ele, mas conseguem ler, naquele gesto daquele humilde senhor, muito amor, muita dedicação e muita entrega.

Um homem que mostra ao mundo o que é amar sem falar nada, um homem que revela valer a pena amar sem usar aparato chamativo nenhum, um sujeito revelando ao mundo, sem nenhum holofote, sem nada que o projete para a sociedade, que vale a pena executar com alegria a tarefa para a qual é incumbido.

A partir de uma atividade tão simples, tão insignificante ele consegue torná-la tão grande, exponencial, até. Pois o que está em jogo não é a atividade em si, pois qualquer um pode fazê-la, o que se nota, aqui, é como ela é desenvolvida, como é desempenhada, os ingredientes que este sujeito coloca cada vez que ele sai para entregar o material da paróquia da qual faz parte.

Ele consegue levar sua crença para todos os lugares, entretanto, poucos conseguem enxergá-la, poucos conseguem percebê-la, pois é uma atividade simples, humilde, uma atividade sem nenhum valor para a sociedade, por isso mesmo a maioria nem percebe que este sujeito existe. Sua crença é a fé que ele tem no Cristo, e na devoção a Maria, mãe de Jesus, essa fé emerge sem palavras, surge através do amor com que ele desempenha sua missão.

Perguntado a ele, porque se jogava tanto naquela atividade, deu a seguinte resposta:

– Estou indo ao encontro de Jesus Cristo, a cada vez que vou levar um cartaz, um convite.

Este andarilho consegue contagiar o vigário e alguns padres que o conhecem, e, também a poucos que o circundam, além deles, alguns destinatários a quem ele entrega cartazes ou outros avisos da paróquia têm essa percepção do grande homem que é aquele entregador de cartazes. Só enxerga o amor quem é capaz de amar.

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