Colunista Moacir Saraiva: “Estou apaixonado”

O sujeito idoso, acima dos 60 e perto dos setenta, viúvo e bem acolhido pelos filhos e filhas. Quando enviuvou, ficou triste, dava até dó vê-lo naquele estado, por isso não se passou muito tempo e ele arranjou uma costela, a solidão não faz bem a ninguém. E se engalfinhou com uma menina bem mais nova do que ele, muito mais nova.
Muito tímido, e a primeira que apareceu ele a abraçou com todo gosto, com toda sua energia. A menina fez alguns gracejos para o idoso e o fez se sentir amado e acolhido, a paixão foi tão intensa que o levou a mudar até o comportamento. Com a esposa, mãe dos filhos dele, jamais frequentava restaurantes, pois argumentava que era gastar dinheiro desnecessariamente, mas com a moça nova, todo fim de semana ele visitava-os e fazia boas farras.
As mudanças da vida do viúvo não pararam por aí, entrou em uma academia a fim de ficar com corpo mais atlético, além de ter dado uma mudança no visual, a moça, com muito jeito, exigiu que ele pintasse o cabelo, mas o homem resistiu e, apenas, deu um trato a fim de ficar mais jovem. Foi mais além, mudou todo o guarda-roupa, comprou novas peças, bermudas, camisetas e tênis. Desfilava com o novo amor, de mãos dadas, pelas ruas, agora, com visual de um jovem.
O homem mudou até os amigos, afastou-se dos filhos e dos parentes, passou a frequentar os espaços ditados pela nova mulher e se fez amigo dos amigos dela. E eram espaços que, mesmo na juventude, ele não tinha frequentado.
A lua de mel durou pouco, cerca de um ano, a menina o chutou. Depois deste rompimento, o sujeito ficou sozinho e começou a apresentar doenças. Uma das filhas o acolheu, e o colocou em casa a fim de tirar o pai daquela melancolia profunda. Ainda assim, o velho convivendo com netos, tendo sua alimentação nos horários certos e de qualidade, a tristeza só se aprofundava. Ela trazia uma série de doenças, dores no corpo, na cabeça, às vezes, não podia andar, em virtude de fortes dores nas pernas.
A filha o levou a médicos, primeiramente de sua cidade, que era bem pequena, depois o levou a um centro maior e os exames nada acusavam, para o paciente estar naquele estado.
Por fim, a filha o levou a capital do estado para um hospital com vários especialistas no sentido de aliviar o sofrimento do pai. Ao chegar à porta do hospital, o velho chamou a filha pelo nome e disse, olhando nos olhos dela:
– Filha, eu não tenho nada, apenas estou apaixonado.

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