Colunista Moacir Saraiva: “Boleiro Surpreso”

 

O rapaz bem requisitado na cidade para confecção de bolos. Bolos de aniversário, bolos de casamento, bolos de bodas, bolos personalizados, enfim era um sujeito que vivia muito bem da sua profissão. Ele mesmo entregava seus produtos ou os clientes buscavam em sua casa.

Todo profissional que lida com o público diretamente consegue desvendar a alma humana no atendimento, tendo ele um pouco de sabedoria. Os boleiros, como outros profissionais, muitas vezes, se tornam confidentes de algumas clientes ou de alguns clientes. Às vezes, é revelado o verdadeiro motivo da festa, a escolha da temática do bolo e também são reveladas nuances que o boleiro jamais gostaria de saber.

O profissional recebeu a visita de um cliente amigo que o solicitou informações sobre bolos, após discutir temas e formatos, o comprador optou pela confecção de um bolo pequeno, com o tema do Unicórnio, e de lá mesmo ligou para uma decoradora de festa infantil a fim de fazer todo o cenário com esse tema, pois é a febre do momento.

Como era o primeiro filho, o pai visitava o comerciante quase todos os dias a fim de ver o andamento, e de ouvir mais detalhes, marinheiro de primeira viagem é assim que se comporta diante de situações que depois acha ridículo, mas não tem como o ser humano se livrar desses vexames. O boleiro já está acostumado com tais principiantes.  Nesse caso era só o pai que passava lá diariamente.

Esse fato, chamou a atenção do boleiro, pois a mãe não ia, os avós também não, geralmente, é a família toda enchendo o saco do profissional que organiza algo para festas de um ano de um bebê, ainda mais se tratando do primeiro. Além dos familiares, até o cão de estimação vai pedir explicação. Por vezes, o profissional tende a pedir à família que procure outro profissional, tamanha é a importunação que sofre no seu ambiente de trabalho e até na rua, quando é encontrado, os familiares se esmeram em cobranças descabidas a boleiros.

Às vezes, o cliente demonstra, claramente ao boleiro, quem não quer na festa, quem ele quer, quem vai ser convidado por interesse, quem não vai ser chamado nem com reza forte, há alguns clientes que gostam de falar e falam até o que não deve, se desnudando de traços de caráter para alguém que mal conhece.

Este cliente que encomendou o bolo do Unicórnio para a filha surpreendeu e muito o boleiro. O fabricante do bolo morava perto dos avós desse moço e no dia da entrega, o freguês sugeriu um horário para pegar o dito cujo, o boleiro disse que ia sair e que deixaria a encomenda na casa dos avós do moço.

Estavam conversando no celular sobre este assunto, quando o comerciante fez a proposta de deixar na casa de seus avós, o rapaz do outro lado, gritou com certa raiva:

– Nem pensar!

Continuou ele:

– Meus avós não podem nem imaginar que vamos fazer a festa de um ano da bisneta deles.

 

 

 

 

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