Colunista Joice Vancoppenolle: “Confraria: o que é e como funciona?”

Vamos começar definindo a palavra confraria, que apresenta dois significados. Um deles pode ser uma associação de caridade e irmandade e o outro, um conjunto de pessoas que se associam tendo em vista interesses e objetivos comuns. Os vocábulos usados para se referir aos membros de uma confraria são confrades/confreiras ou simplesmente irmão/irmã, porque a palavra confraria deriva de confraternização.

Do ponto de vista religioso, as confrarias são grupos de leigos católicos que se associam, geralmente pela vizinhança, para promover a devoção e o culto a um santo, representado por uma relíquia ou imagem. Sua característica principal é o caráter leigo no culto católico.

Nos dias atuais, estas organizações continuam atuantes com suas devoções, cerimônias e obras sociais e são reconhecidas pela Santa Sé. O Papa Bento XVI, falando a membros das mais de duas mil confrarias das regiões e dioceses da Itália em 2007, reconheceu a importância histórica do seu papel para além da devoção, sobretudo na Idade Média.

Desde a época das cavernas, grupos se reúnem por motivos diversos, sejam eles proteção ou afinidade. A ideia primitiva evoluiu ao longo da história para clubes mais complexos. Os Templários, a Maçonaria, e os Illuminati são apenas alguns exemplos.

É claro, as confrarias modernas não são mais tão secretas ou mirabolantes assim. Como esquecer do professor interpretado por Robin Williams e seus alunos amantes da leitura em “A Sociedade dos Poetas Mortos”? Os clubes de literatura, vinhos ou uísque reúnem cada vez mais adeptos interessados em trocar experiências e informação. Mas, como essas confrarias funcionam?

No caso das confrarias de vinho, uísque e cerveja, por exemplo, cada membro leva a sua garrafa de acordo com um tema pré-estabelecido, como região, país, um tipo de uva. O ideal é realizar encontros para degustação a cada trinta dias para que os confrades possam saborear o conteúdo das garrafas e discutirem entre si. Trocando em miúdos, a ideia é juntar amigos que comungam dos mesmos hábitos usos e costumes e isso sempre foi um desejo do ser humano. Para sobreviver temos que nos alimentar e que tal fazer isto em uma roda de amigos e ter o vinho como mote para tais encontros? Assim nascem as confrarias de enófilos, que no passado eram grupos elitistas e hoje são grupos populares e muito difundidos em todo o território brasileiro.

Faço parte da confraria de vinhos de Valença In Vino Veritas, onde temos o prazer e a cultura do vinho como nosso objetivo principal. Fazemos encontros trimestrais em restaurantes e degustamos rótulos do mundo inteiro, escolhemos temas e debatemos, harmonizamos vinhos e pratos, apreciamos e estreitamos laços de amizades.

Há uma década havia 157 confrarias no Brasil, em diversas cidades do território Nacional.

Algumas são formais, com estatutos sociais e tudo e outras são somente grupos de amigos, mas o importante é que os produtores de vinhos de todo o mundo dão a maior atenção a estes grupos, que são verdadeiras células de transmissão de conhecimento e formadoras de opiniões. “A pinicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes.”

Sócrates

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